Os Interpol formaram-se em Nova Iorque, numa sucessão de encontros e desencontros, sendo que em 2001 teriam a formação que ainda hoje apresentam, a saber: Paul Banks (voz e guitarra), Daniel Kessler (guitarra e voz de acompanhamento), Carlos D. (baixo, teclas e voz de acompanhamento) e Samuel Fogarino (bateria).
Começando por rodar o circuito de salas de Nova Iorque, deram um salto para este lado do Atlântico, onde o falecido (paz à sua alma) Jonh Peel gravou em 2001, mais uma das suas famosas sessões com a banda em questão. A partir daí, as portas das editoras abriram-se, em particular as da Matador Records.
Antes de passar a coisas mais sérias, só uma nota. O seu nome vem de uma piada qualquer acerca do nome Paul e a semelhante fonia com Interpol. Só isso.
De volta. O seu som passa, sem dúvida, pelo rock do fim dos 70, princípio dos 80, em particular por Joy Division, The Cure (juntar-se-iam a estes na Curiosa Tour em 2004) e Echo & the Bunnymen. Tensão, tendência urbano-depressiva, negrume, o pacote todo. Mas o peso destas referências e as suas características comuns não desvirtuam o trabalho desta banda. É que existe aqui qualquer coisa mais. Existe sem dúvida uma reciclagem de sons já conhecidos, mas a maneira como eles são apresentados e a sinceridade que se sente ao ouvir as suas músicas são notáveis. Não sei o que o futuro lhes reserva, mas o que fizeram na sua curta carreira, augura algo de muito bom.
Até hoje foram lançados três discos, existindo alguns EP´s e compilações que escusaremos de comentar.
“Turn on the bright lights”
O disco de estreia. Depressão e escuridão em forma de guitarras esgalhadas. Quando surgiu, alguns preveram que o rock de gabardine (conferir com as influências atrás apontadas), estaria de regresso. Não era para acontecer, mas fica este brilhante álbum de estreia. A primeira vez que ouvi o primeiro single “PDA”, fiquei sem palavras. Como single de apresentação, é dos melhores que já se ouviram. E depois tudo o resto. Pelo que à frente direi, não destacarei quaisquer músicas… tirando o soberbo, “NYC”. Os REM, quando tocaram em Nova Iorque, fizeram uma versão deste tema.
Aconselhável para dias de chuva e descrença na natureza humana.
“Antics”
Depois de dois anos de digressões, a banda reuniu-se no princípio de 2004 para gravar este disco. O que se ouve no disco é uma nova direcção, completamente distinta do que se ouviu anteriormente. As músicas estão mais leves e a sua audição não leva ao desespero anterior. Mas o que estas permitem é que as contínuas audições que não se evitam, levem a novas descobertas e ao tomar como nosso o que se ouve. Em discos como este é sempre despiciendo apontar músicas. Desde a abertura com um som de órgão em “Next Exit”, até ao tranquilo final com a “Time to be Small”, tudo é do melhor que se ouviu no ano passado. E do que se continua a ouvir. Aconselhável para dias frios, mas com muito sol.
"Our Love To Admire"
As primeiras 3 faixas são uma continuação melhorada e requintada dos primeiros álbuns, densas e cinzentas como se quer, rigorosas e fechadas, recheadas de quebras e retomas divinais e apoiadas, para além das baterias e das guitarras, por mais teclas e sintetizadores do que é costume. O destaque aqui vai para o tema de abertura, Pioneer On The Falls, que é das mais extraordinárias canções que a banda já criou. Uma marcha lenta e arrepiante, que se prolonga por muitos mais minutos do que aqueles que realmente tem e que encontra na voz comovente de Paul Banks o seu elemento central. Ao quarto tema dá-se a reviravolta: The Heinrich Maneuver só não surpreende mais, porque já foi apresentada como primeiro single. Um tema mais aberto, rápido e luminoso, onde os Interpol, por momentos, se desfazem de várias amarras que eles próprios criaram, numa canção inspirada e absolutamente fascinante. O problema vem depois. Talvez guiados pelo tal forte desejo de mudança, a sonoridade começa a dispersar-se a partir daqui. Mammoth, Pace Is The Trick e All Fired Up são canções mais ou menos banais, algo desintegradas e descaracterizadas, que acabam por se tornar desinteressantes, fazendo-nos rapidamente perder a atenção inicial com que fomos conquistados. Em Rest My Chemistry a tensão volta a instalar-se - regressamos aos temas mais fúnebres. Wrecking Ball e The Lighthouse aceitam-se, são temas belos até, mas que fecham o álbum sem intensidade ou subtileza alguma - já estamos longe do brilhantismo habitual dos Interpol.
Our Love To Admire ainda não foi a mudança que se esperava, mas, pelo menos, indicia uma vontade dos Interpol de diversificarem o seu som. Deram aqui os primeiros passos nesse sentido - talvez não tenham sido os mais acertados, mas estamos confiantes que, da próxima, aprenderão com os "erros" cometidos. Falta afinar algumas ideias, limar certas arestas, mas também rever e repensar algumas opções. Talvez seja preciso escolher outro atalho para alcançar a meta. Não se trata de uma desilusão total - longe disso - mas a qualidade invulgar de uma banda como os Interpol antecipava um tiro mais certeiro.
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